terça-feira, 10 de maio de 2016

Ospa em Pessoa apresenta: Israel Oliveira

http://www.ospa.org.br/?p=19965

Ospa em Pessoa apresenta: Israel Oliveira

Não foram poucos os fatores que fizeram de Israel Oliveira trompista da Ospa. Entre o ingresso, ainda que tardio, em uma escola municipal de música, uma professora que acreditou no seu potencial e a chance de prestar um concurso público para integrar a orquestra, muitos foram os passos dados pelo músico. E, como ele mesmo diz, todos o trouxeram até aqui.
Foi na igreja que começou a fazer música. Por insistência da mãe, não perdia um ensaio. O pai é que não entendia esse seu desejo. Para ele, a profissão ideal para o filho era a de vigia noturno. “Essa era a realidade dele. Sou o primeiro filho de um casal que saiu do nordeste para São Paulo. Até hoje o mundo da música para ele é um mistério”, explica. Israel, então, abandonou a trompa e ingressou no exército, onde serviu até os 21 anos.
Mesmo adulto e com um filho, a atração pelo instrumento, que sempre se destacava para ele em qualquer trilha sonora no cinema, o reaproximou da música. “Desde o início, minha relação com a música foi sanguínea, foi paixão”, declara. Seu primo, trompista profissional, o apresentou para o professor Ozéas Arantes, da Escola Municipal de Música de São Paulo. Ainda que com um mestre que considera como um pai-professor, Israel pensou em desistir novamente. “Quando fui cancelar a minha matrícula, a diretora me chamou e disse: ‘Se você não consegue acreditar em si mesmo neste momento, acredita em mim. Você tem muito talento e tenho certeza de que essa tua música ainda vai ajudar muita gente’. Ela me pediu mais um ano e eu fiquei”, conta.
O trompista integrava diversas orquestras ao mesmo tempo, tocava em bandas e fazia musicais. Foi músico da Banda Sinfônica Jovem e da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, da Orquestra Experimental de Repertório, das sinfônicas de Santo André, de Ribeirão Preto e da USP até que prestou concurso para a Ospa, em 2003. “Eu acho que todo o artista deveria ser estatutário. A arte não é exata. Um artista plástico, por exemplo, demora anos para produzir seu trabalho. Nesse tempo, ele vai morrer de fome?”, questiona.
Ao lado da orquestra, que considera como uma família, viveu momentos marcantes, como quando executou a Sinfonia nº3 de Mahler, repleta de solos de trompa. “Entre nós, músicos, brincamos que trompistas não precisam pular de paraquedas, porque já tocam trompa”, brinca. A trompa, que entrou para o Guinness Book junto com o oboé como o instrumento mais difícil de ser tocado no mundo, é o que, segundo o músico, “costura” a orquestra, pois conversa com todos os naipes.
Hoje, além da Ospa, Israel integra o Quinteto Porto Alegre e outros grupos de música de câmara, um deles composto por professores da Escola de Música da Ospa, onde ele também dá aulas. “Com meus alunos, eu tento retribuir o bem que aquela diretora me fez. Eu coloco os pais dentro da sala de aula com seus filhos, para que possam entender o que fazemos ali. A maioria das famílias da Escola da Ospa não são dos grandes colégios de Porto Alegre, são pais como os meus eram, que não entendem mas querem apoiar, e eu quero fazer essa ponte”, defende.
O modo de vida dos pais lhe serviu de inspiração: “O jeito deles é o que fez eu me apaixonar pelo lado simples da música. Não tenho interesse na pompa ou na erudição. Hoje eu posso estar solando com a Ospa, amanhã eu posso estar no Som do Salão (projeto da Universidade Federal do RS) tocando um rap e eu vou estar me sentindo digno da mesma forma, fazendo música. Incentivo meus alunos a serem trompistas, independente de onde eles venham a tocar”, comenta.
João Carlos Martins, maestro brasileiro, diz que a música salvou sua vida. Israel prefere outro termo. “A música me recolocou na vida”, diz ele. “Ela me deu outros rumos e eu quero aproveitar todos eles. A relação com meus alunos, com Ospa e com o público é, principalmente, um compromisso com o Estado do Rio Grande do Sul. O que eu quero é que possamos crescer todos juntos”, encerra.
Texto e foto: Ana Eidam

Nenhum comentário:

Postar um comentário